Surgiu entre as pernas um tal de sangue.

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Nascera com algo entre as pernas que determinava a cor de seu berço, seus laços na cabeça, bolinhas vermelhas no vestido e borracha de joaninha. Não conseguia entender a diferença entre a mãe e o pai, tirando os seios, ambos pareciam da mesma espécie, raça ou seja lá o que fosse. Mamãe não estava em casa pela manhã, nem papai, nem ela mesma. Todos passavam as manhãs atarefados. E, a tarde, papai odiava lavar a louça, mamãe também. Mamãe tinha mania de usar as cuecas de papai por debaixo do pijama. E papai, sem avisar, pegava as camisetas de animais da mamãe. Ambos dormiam com um cobertor que era marrom, nem azul, nem rosa. Mas ela tinha uma cama cor de rosa e laços nos sapatos. E seu irmão um cobertor de super homem e tênis do bem 10. E agora aquele tao de sangue entre as pernas escorrendo sem parar por quase dez dias seguidos. Uma dor que não respeita.  E a conversa com a mãe. Com um senhor antipático chamado ginecologista. Balinhas coloridas numa tabela de dias certos. Seios parecidos com os da mamãe. A mamãe que não é mais mamãe, é apenas Mãe. Curso de inglês, absorventes, cantadas indiscretas. Um short maior que esconda mais o meu sexo. Algo novo, a vergonha. Vergonha de teus seios, de tua nova cintura, das tuas cochas roliças. Medo da invasão. Bicicleta agora só de calça comprida, para evitar. Tranças no cabelo, ela mesma tem que fazer, não mais com histórias. A tarefa da manhã não é mais estudo é trabalho. E o sangue que a fez mulher, agora também a fez mamãe, nem lembra direito como isso foi acontecer. A mãe se transformou em avó, e não usa mais cuecas nem calças de pijamas, usa camisola e esmalte vermelho. O Pai não tem mais camisetas de animais pra pegar, agora ele não se veste mais de amor, vive cansado e só pensa em ser o avô das balas. O irmão não assiste mais ben 10, e agora aparece só pra fazer programas de tio. E ela tem uma aliança no dedo. Cuecas pra roubar, batons de várias cores pra usar. Saias com bolinhas brancas. Um terno feminino para o trabalho, uma camisa masculina para o pós- orgasmo, e um salto para as festas.

Continua a sangrar. Entre as pernas. Um tal de sangue que sem querer a fez mulher. Numa tal de vagina, que a obrigou a ser menina.

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